LEON DENIS -
ESPÍRITOS E MÉDIUNS
O estudo e
aplicação das faculdades medianímicas são de capital importância, já que,
segundo o uso que se faça desses dons, podem resultar em um bem ou em um mal
para quem os possua e para a causa que pretenda servir.
O Espiritismo
é uma arma de dois gumes: arma poderosa – com o apoio dos espíritos elevados –
para combater os erros, a mentira e todas as misérias morais da humanidade; mas
também uma arma perigosa pela ação dos espíritos inferiores e maus. Nesse caso,
pode voltar-se contra os médiuns e os experimentadores e ferir-lhes a saúde e a
dignidade, causando desordens graves.
Na
experimentação espírita, tudo depende dos invisíveis. A natureza e a qualidade
de sua ação variam segundo o valor das entidades que se manifestam.
Os espíritos
elevados derramam, sobre nós, fluidos puros e benéficos, que reconfortam nossas
almas e acalmam nossas dores, predispondo-nos à bondade e à caridade. Em nosso
relacionamento com eles, obtemos as forças necessárias para vencer nossos
defeitos e nos aperfeiçoarmos.
As manifestações
dos espíritos inferiores podem ser úteis pelas provas de identidade que
proporcionam, mas, sem demora, seus fluidos pesados e maus alteram o estado de
saúde dos médiuns, turvam seu juízo e sua consciência e, em certos casos,
desembocam na obsessão e na loucura.
As trágicas
cenas descritas pelo Dr. Paul Gibier em seu livro Espiritismo ou Faquirismo
Ocidental, das quais quase termina vítima, e os exemplos que encontramos um
pouco em todas as partes, nos demonstram, até à evidência, os riscos que se corre
ao se estabelecer relações continuadas com os levianos do espaço.
Praticar o
Espiritismo sem rodear-se de precauções necessárias equivale a abrir a porta,
de par a par, para os assaltantes de rua.
Recordemos em
que consistem as precauções indispensáveis. Antes de cada sessão, há que se
invocar os espíritos guias e assegurar uma proteção eficaz que, afastando as
más influências, estabeleça no ambiente invisível a mesma disciplina que o
presidente do grupo deve impor aos assistentes.
Com este fim,
Allan kardec recomenda a oração e nós não titubeamos em insistir nesse sentido.
Sem dúvida
que, como a ele, nos chamarão de místicos, mas o que fazemos é observar e
aplicar a lei universal das vibrações, que une todos os seres e todos os mundos
e os liga a Deus.
A Ciência
começa apenas a balbuciar os primeiros elementos dessa lei com o estudo da
radioatividade dos corpos, com a aplicação das ondas e correntes à longa
distância. Mas, à medida que prossiga nas investigações do Invisível,
comprovará sua maravilhosa harmonia e suas vastas consequências.
A partir
deste ponto de vista, lhe estão reservados esplêndidos descobrimentos, porque
nisso reside todo o segredo da vida superior, da vida livre do espírito no
Espaço e as regras de suas manifestações.
Com o
pensamento e a vontade podemos pôr em movimento todas as forças escondidas em
nós mesmos. Nossas irradiações fluídicas se impregnam das qualidades ou dos
defeitos dos pensamentos e criam, em torno de nós, um ambiente de conformidade
com nosso estado de alma.
Como a oração
é a expressão mais alta e mais pura do pensamento, traça uma via fluídica que
permite às entidades do Espaço descerem até nós e se comunicarem; nos grupos
ela constitui um meio favorável à produção de fenômenos de ordem elevada, ao
mesmo tempo que preserva contra os maus espíritos.
Para que seja
eficaz e produza todo o efeito desejado, a oração deve ser um chamamento
ardente, espontâneo e, por conseguinte, de breve duração: pelo contrário, as
orações vulgares, recitadas da boca para fora, sem calor comunicativo, não
produzem senão irradiações débeis insuficientes.
Fácil,
portanto, será compreender a necessidade de que haja, nas sessões, união de
pensamentos e vontades. Deve-se ter presente, sobretudo, a importância que
exercem nas emissões fluídicas os sentimentos de fé, de confiança, de
desinteresse, em uma palavra: todas as qualidades morais, as facilidades que
elas dão aos bons espíritos, de par com os obstáculos que opõem à ação dos
espíritos mal-intencionados.
E, tudo isso,
sem excluir o livre exame e as condições de controle que nenhum observador deve
abandonar jamais.
Tão pouco há
que se surpreender se os resultados obtidos são relativamente trabalhosos e
pobres em ambientes em que reina uma atmosfera de ceticismo, onde se pretende
dar ordens aos fenômenos e aos espíritos, e nos que, sem saber, criam travas às
manifestações de ordem elevada.
Ademais, o
presidente de cada grupo deve esforçar-se em obter silêncio e recolhimento
durante as sessões, e evitar as perguntas inoportunas e demasiado pessoais, que
pretendam dirigir aos espíritos, para manter, dentro do possível, a união dos
pensamentos e das vontades, dirigindo-os para uma finalidade comum.
Os
pensamentos divergentes e as preocupações materiais formam correntes
desencontradas, uma espécie de caos fluídico, que dificulta a intervenção dos
guias, enquanto que a concordância de intenções e de sentimentos estabelece a
fusão harmônica dos fluidos e cria um ambiente propício à sua ação.
A sessão deve
terminar com algumas palavras de agradecimento aos espíritos protetores e
convidando os participantes a aproveitar os ensinamentos recebidos, praticando
a moral que deles se deriva.
Com suas
críticas, nossos contraditores inexperientes demonstram, com frequência, sua
escassa competência nestes assuntos. Mas, por outro lado, todos os
magnetizadores conhecem a propriedade que têm os fluidos de refletir exatamente
nosso estado de ânimo e sabem imprimir-lhes, às vezes, qualidades benéficas e
curativas.
Também é
possível demonstrar, experimentalmente, a existência e a variedade infinita
desses fluidos que diferem em cada personalidade.
Pode-se
facilmente tirar placas fotográficas com as irradiações que se desprendem de
nossos cérebros, e registrar os fluidos que variam segundo as disposições
pessoais.
O exercício
da mediunidade encontra dois obstáculos temíveis: o espírito de lucro e o
orgulho. (Quantos médiuns começaram animados de um sincero desejo de servir à
nossa causa e terminaram, por causa do orgulho, por cair no ridículo,
convertendo-se em motivo de zombaria para todos!)
A satisfação
de si mesmo é perfeitamente legítima, quando é o resultado de qualidades ou de
méritos adquiridos por meio de trabalho ou estudos prolongados. Como sentir
orgulho por uma faculdade que veio do Alto e que não precisou de gastos nem
esforços?
O orgulho é o
que inspira essas rivalidades, essa inveja mesquinha entre médiuns, causa frequente
de desunião em alguns grupos. É preciso que cada um se contente com o que
recebe.
Quando o
médium está isento de vaidade, é franco de coração, e, com a sinceridade de sua
alma, aos olhos de Deus, oferece seu concurso aos bons espíritos, estes se
apressam em assisti-lo e o ajudam a desenvolver suas faculdades.
Cedo ou tarde
levam até junto dele os parentes falecidos, os amados mortos, reatando-se uma
doce intimidade, fonte de alegrias e consolos. Pouco a pouco o médium vai se
tornando o artífice bendito da obra de renovação. Recebe e transmite as
instruções que iluminam a vida e traçam a via de ascensão para todos,
proporcionando, assim, a ajuda moral que faz mais fácil o dever e mais
suportável a prova.
Assim, com os
ensinamentos dos espíritos, a noção de justiça se estenderá pelo mundo. Ao
saber que viemos quase todos para expiar faltas anteriores, o homem não se
mostrará tão inclinado a murmurar contra a sua sorte, e seu pensamento se
elevará acima das misérias deste mundo, evitando que seus atos ou suas palavras
aumentem o peso das injustiças que sobre si recaem. Então a vida social poderá
melhorar, e a humanidade adiantará um passo.
Todas essas
humildes vidas de médiuns que, a não ser por isso, ficariam obscuras e
insignificantes, se verão enriquecidas pela missão recebida, iluminadas por um
raio divino e se converterão em elementos de progresso e de regeneração.
O contato com
o Invisível, com as almas puras e grandes, aumenta as faculdades psíquicas e
multiplica os meios de percepção. Nas sessões bem dirigidas, o médium percebe,
cada vez mais, as irradiações, os fluidos dos mundos superiores. Experimenta
uma dilatação de seu ser, uma soma de gozos que escapam à análise e que são,
como uma antecipação da vida espiritual, um prelúdio da vida do espaço. É uma
compensação oferecida, já nesta existência, às fadigas e trabalhos pelo
exercício da mediunidade.
O médium
sincero, leal, desinteressado – como dizíamos – pode estar seguro da
assistência dos bons espíritos; mas se ele se deixar invadir pelo amor ao
lucro, ou pelo orgulho, os Espíritos Guias se afastam e deixam o caminho aos
espíritos fracos e atrasados. Então, aumentam os enganos e as fraudes. Aparecem
mensagens firmadas com nomes pomposos de estadistas, reis, imperadores ou
poetas célebres, porém, quando se passam essas comunicações pela peneira da
razão e da reflexão, nos damos conta de que somos vítimas de uma fraude.
Não é que
queiramos dizer que esses grandes espíritos não se comunicam nunca, mas
aconselhamos a maior prudência neste ponto, pois sabemos, por experiência, que
os espíritos elevados, que tiveram nomes ilustres na Terra, não gostam de
vangloriar-se deles, preferindo manifestar-se com nomes alegóricos e
pseudônimos. Vários médiuns contribuíram, dessa maneira, a desnaturar o
Espiritismo.
Allan Kardec,
pela retidão de seu caráter, a dignidade de sua vida e pela elevação de seus
pensamentos, teve o privilégio de atrair espíritos nobres e elevados. Leiamos e
meditemos seus livros, que são a expressão da mais pura sabedoria e verdade.
Por exemplo,
em suas obras este grande escritor sempre se levantou, com vigor, contra o
princípio da mediunidade assalariada, como causa de abusos inumeráveis.
Recordemos,
antes de mais nada, que a mediunidade é variável, inconstante e pode
desaparecer tal como veio. Não exige estudos prévios, nem usa laboriosa
preparação como na aquisição de uma arte, de uma ciência, etc. É um dom que é
retirado, quando se abusa dele.
Os exemplos
disso são frequentes. A mediunidade, cujos resultados são muito diferentes
segundo os lugares, o ambiente e a proteção oculta, e são com frequência negativos,
pouco serviria a uma utilização regular e contínua. Os guias sérios, os
espíritos elevados não se prestariam a isso.
Admitimos,
não obstante, que os sábios e os experimentadores que se servem das faculdades
de um médium e monopolizam seu tempo, firmem com ele um compromisso e o
indenizem por suas viagens e pelas horas perdidas. Assim mesmo, consideramos
que os grupos devem aos médiuns, depois de prolongados serviços, mostras de
simpatia e atenção, com a condição de que isso não atente contra o princípio da
mediunidade gratuita e desinteressada.
Poderá
alegar-se que faz cinquenta anos que Allan Kardec faleceu; que as
circunstâncias mudaram, que o Espiritismo se estendeu, e a Ciência começa a
interessar-se por seus fenômenos, sendo, portanto, conveniente proporcionar os
meios que lhe permitam comprovar e confirmar tais fenômenos.
A isto
responderemos que os conceitos formulados por Allan Kardec não perderam nada de
sua oportunidade. E, precisamente porque o Espiritismo se estende e está
chamado a representar um grande papel, porque leva a si os elementos de
salvação e de regeneração, é que se há de preservá-lo de toda mancha e evitar,
quanto possa, diminuir seu valor e sua beleza. Porém, o que é incontestável é
que todo tráfico inspira desconfiança. O afã de ganhar leva ao charlatanismo e
ao engano. Quando o médium adquire o costume de tirar proveito material de suas
faculdades vai resvalando, pouco a pouco, para a fraude porque, se os fenômenos
não se produzem, procura imitá-los.
Em todas as
partes em que o Espiritismo é objeto de comércio, os espíritos sérios se
afastam e os espíritos inferiores vêm ocupar seu lugar.
Nesses
ambientes, o Espiritismo perde toda a influência benfeitora e moralizadora para
converter-se em um verdadeiro perigo, em uma exploração da dor e das
recordações dos mortos.
Em resumo,
repetimos aos espiritistas e aos médiuns em vossas reuniões, pratiquem sempre o
recolhimento e a oração; que esta seja como um facho luminoso que alcance
diretamente seu fim, e atraia os bons espíritos; se não for assim, não virão as
almas que desejam, não virão vossos mortos queridos.
Não façais de
vossas sessões um objeto de diversão, de curiosidade, um espetáculo para
boquiabertos, mas um ato grave e solene, um ato de cultura intelectual e moral.
Não atraiam os espíritos de ordem inferior, cujos fluidos podem alterar vossa
saúde e provocar casos de obsessão. Não evoqueis vossos guias, senão com a
consciência de que o fazeis com respeito.
Todos têm sua
missão a cumprir no Mais-Além; suas ocupações são múltiplas e absorventes. Sua
vida está muito distante de ser a beatitude sonhada; é uma atividade constante,
uma dedicação abnegada para todas as grandes causas.
Seus
ensinamentos, seus conselhos os ajudarão a suportar as vicissitudes da
existência terrena, eles vos darão a certeza de novas vidas futuras, vidas de
trabalho, de purificação, de dever, por meio das quais vossas almas, ao se
fazerem mais tolerantes, subirão um dia para essas esferas luminosas, nas quais
começarão a desfrutar as alegrias do Infinito.
Neste
momento, levanta-se sobre o mundo uma grande esperança, começa a despontar uma
nova aurora para o Pensamento e para a Ciência. O Espiritismo, que se baseia na
verdade, é imperecível, mas sua marcha pode se ver entorpecida pelos erros e
faltas de seus próprios partidários, muito mais do que pela oposição e manejos
de seus adversários.
Chagará um
dia em que tudo quanto ensinam os espíritos, faz quase um século, sobre o períspirito,
os fluidos, a sucessão de existências, tudo será admitido como certo e
confirmado pela Ciência.
Reconhecer-se-á
então a importância da oração na comunicação universal dos seres. E as
ladainhas monótonas e intermináveis da Igreja cessarão, para dar lugar ao grito
da alma para seu Pai, ao chamamento ardente do ser humano àquele de quem tudo
emana e para quem tudo volta eternamente.
Quando tal
dia chegar, a Religião e a Ciência se fundirão em uma concepção mais ampla da
vida e do destino. O Espiritismo será o culto da família; o pai, mais
instruído, mais culto, substituirá o sacerdote; a esposa e as filhas serão as
médiuns por cujo intermédio os antepassados, as almas dos avós se manifestarão
e assegurarão sua influência moral. Será o retorno à religião franca e
primitiva, enriquecida pelo progresso e a evolução dos séculos; sobre esse
culto familiar cimentar-se-ão as imponentes reuniões e as mais altas
manifestações da ordem estética.
Entretanto,
para que o Espiritismo realize todo o seu programa renovador, terá que afastar
de seu seio os germes mórbidos e todos os elementos maus que poderiam
entorpecer ou deter seu impulso. Deste modo, a responsabilidade dos espíritas é
grande. Eles devem evitar, com cuidado, tudo quanto possa retardar o grandioso
florescimento de nossas crenças e de seus efeitos moralizadores.
O
Espiritismo, depois de haver sido, tanto tempo, repudiado, menosprezado, se
impõe definitivamente pelo poder de seus fatos e pela beleza moral de sua
doutrina. Converteu-se numa força radiante que se estende progressivamente pelo
mundo.
Depois das
provas de uma guerra de cinco anos, depois do luto e do vazio causado por
tantas partidas, muitos olhares chorosos se voltam para ele.
Nós, que
temos conhecido as dificuldades e os sofrimentos do princípio, comprovamos, com
alegria, este imenso impulso que leva as almas para nossas crenças. Contudo,
para assegurar a difusão e o triunfo definitivo, para obter o respeito de seus
adversários e desempenhar o papel salvador que lhe corresponde na obra de
ressurgimento da pátria, o Espiritismo deve cumprir uma condição absoluta, sem
a qual não é possível êxito algum, e esta condição não é outra senão a de ser
sempre honrado, seguindo as tradições de seu venerado fundador.