Quais são afinal os fundamentos da Umbanda?
O fundamento de uma religião é sua base, seu alicerce, a razão
fundamental de sua doutrina e ritual.
Na Umbanda ouvimos falar muito nesta palavra “fundamento”, em
contextos como: “tal coisa tem ou não fundamento”, “isto é um fundamento
da religião”. A palavra é usada e manipulada a revelia e, neste contexto,
se perde o significado de fundamento e confunde-se o fundamento do todo
(coletivo) com fundamentos das partes (individuais).
Para definir quais são os fundamentos da religião de Umbanda é
preciso antes definir o que é Umbanda e, neste ponto, já encontramos uma
dificuldade enorme para a maioria das pessoas que crêem na definição detalhada
de doutrina e ritual. No entanto, devemos definir quais são as linhas mestras
da Umbanda, o simples e básico, para depois, então, identificar seus
FUNDAMENTOS BÁSICOS. Sabemos que a Umbanda possui unidade e
diversidade. Na unidade está o básico que faz identificar, ou não,
Umbanda; e na diversidade está a liberdade ritual e doutrinária de cada
grupo, “umbandas”.
Na unidade está o todo e na diversidade estão as partes. O todo é
algo comum a todas as partes.
Logo, fundamentos básicos são aqueles que estão presentes em todas
as suas partes, no todo.
Quando falamos de UMBANDA (singular e uma), estamos falando do
todo; quando falamos em umbandas (múltipla e plural), estamos falando das
partes. As partes também têm fundamentos. Em relação ao todo, estes
fundamentos são parciais, fundamentos desta ou daquela parte, desta ou daquela
umbanda.
Aí surgem fundamentos da Umbanda Branca, Tradicional, Esotérica,
Popular, Mista, Trançada, Africanista, Omolocô, Iniciática e etc. Fundamento da
parte não é fundamento do todo, logo fundamento de Umbanda é algo que deve
ou pode ser aplicado ao Todo, em todas as partes e liturgias da religião.
Só não podemos falar em “Verdadeira Umbanda”, ou “Umbanda Pura”.
Afirmar que algo seja “o verdadeiro” é uma forma de desclassificar o resto e
rotular de falso. Também não podemos falar em pureza dentro de uma
religião que nasce com sincretismos. Aliás, não existe pureza em nenhuma
religião, todas nascem de cultos e ritos que lhes antecederam.
O básico do básico na Umbanda é reconhecer que se trata de uma
religião brasileira fundada no dia 15 de Novembro de 1908 por Zélio de
Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Podemos identificar
nas palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas os fundamentos mais básicos
de Umbanda:
“Umbanda é a manifestação do espírito para a pratica da caridade.”
“Aprender com quem sabe mais e ensinar a quem sabe menos, a ninguém
virar as costas.”
Parece pouco, mas já é muito. Atendimento caritativo é a base
doutrinária da religião, sem nenhuma forma de preconceito com relação às
entidades que se manifestam. Quem lançou a pedra fundamental da religião
foi um espírito que teve muitas encarnações e, entre elas, foi o Frei Gabriel
de Malagrida, que fez a opção de se apresentar como “Caboclo”. Seguido a
esta manifestação se apresentou o preto-velho Pai Antônio e ambos chamaram
falanges de caboclos e pretos-velhos para trabalhar na Umbanda. Logo, “caboclo”
e “preto-velho” são formas de se apresentar escolhidas pelos espíritos que
militam na Umbanda. Mais um de seus fundamentos básicos: as entidades
se organizam no astral em linhas e falanges identificadas pela forma de
apresentação, a qual guarda relação com os Santos, Orixás e forças da natureza.
Quanto ao ritual é bem simples e musicado, na maioria das vezes
segue uma sequência que pode variar um pouco, mas que em geral fica nesta
ordem: oração, saudação à esquerda, bater cabeça, abrir cortina (quando
tiver), defumação, hino da umbanda, abrir a gira, saudação às sete linhas,
saudação aos orixás e guias chefes da casa, chamada de orixás ou guias que
darão sustentação ao trabalho e chamada da linha de entidades que dará
atendimento (passe e consulta); ao final dos atendimentos a subida das
entidades, podendo, ou não, ter descarrego dos médiuns com esta ou outra linha
que venha para tal atividade.
Na próxima edição vou comentar sobre a relação entre fundamentos de
umbanda e questões polêmicas, como sacrifício animal, cobrança de atendimentos,
procedimentos afros e outros.
Umbanda não tem verdades inquestionáveis (dogmas) e nem assuntos
proibidos ou interditados (tabus).
No entanto para falar de fundamentos é essencial ter conhecimento
de causa, conhecer profundamente o assunto e, no caso da Umbanda, conhecer sua
história, doutrina, teologia, liturgia, ritualística…
Caso contrário, como diria meu amigo, irmão e mestre, Rubens
Saraceni: “tudo permanece no campo de uma ciência chamada
‘achologia’, um campo de incertezas e divagações”.
Alexandre Cumino
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