Segue um texto muito pertinente com o mês
corrente extraído de ”A Umbanda Brasileira”, livro de José Fonseca publicado em
1978, depois de passar pelo Jornal ” Gira de Umbanda” em 1976. É uma
carta de esclarecimento do C.O.N.D.U. sobre a escolha do 15 de
Novembro como dia nacional da Umbanda, bem como o seu significado para a
religião e o movimento umbandista.
O
Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda foi criado em 12 de Setembro de 1971
sendo o primeiro órgão umbandista de caráter nacional, que conseguiu agregar em
sua reunião de 1976 , 25 federações de Umbanda de todo o país,
totalizando mais de 40.000 terreiros e tendas representadas no
evento, que teve entre as suas pautas, a escolha do dia nacional da
Umbanda.
É
interessante observar no texto o desconhecimento existente na década de
70 de grande parte do movimento umbandista da história ocorrida em 1908 –
bem como do próprio rito original, cujo estudo e análise ainda hoje é renegado
pela grande maioria dos umbandistas – os motivos da escolha do 15 de
novembro pelo próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas para a sua
manifestação e a anunciação da nova religião, as considerações feitas sobre o
13 de maio, como sendo a data mais apropriada para representar a Umbanda, o que
representa a existência de uma grande associação na época, da origem da
Umbanda, o seu surgimento, com as religiões e a cultura
afro-brasileira. Posição ainda sustentada por grande parte das vertentes
africanistas de Umbanda, que relutam em reconhecer fatos históricos; a
Umbanda como religião puramente brasileira, a Tenda Espírita Nossa Senhora da
Piedade, Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas como os fundadores e
precursores da Umbanda.
Porque Milhões de brasileiros escolheram 15
de Novembro como o DIA NACIONAL DA UMBANDA
O
CONSELHO NACIONAL DELIBERATIVO DA UMBANDA-C.O.N.D.U. – por intermédio de sua
representante no Estado do Amazonas, a Cruzada Federativa Espírita de Umbanda,
tomou conhecimento do comentário da sessão “Umbanda – Quimbanda” do
jornal “ A Notícia”, de Manaus, em 11 do corrente mês,
sob o título “Escolha Justa”, no qual se lê que “ a suposta
escolha de 15 de novembro para ser considerado o Dia da Umbanda, sugerida
num encontro umbandista, no Rio de Janeiro, vinha decepcionando”… e que
“a data diz respeito à Proclamação da República, nada tendo a
ver com a Umbanda, o que significa que foi sugerida por profanos, por
quem desejava apenas homenagear um centro”… ”Os umbandistas amazonenses
disseram que o 13 de Maio, data da libertação dos escravos é realmente a
mais indicada”.
O
C.O.N.D.U. esclarece que:
A data
de 15 de Novembro foi proposta pelas entidades federativas do Rio de
Janeiro, na I Convenção Anual deste Conselho, da qual participaram 25
federações, representando a maioria absoluta dos Estados; e que não
opuseram qualquer objeção à escolha.
Entre as
datas sugeridas – 13 de Maio, consagrada aos Pretos Velhos – e 22 de
Novembro – dia de Araribóia – venceu por unanimidade 15 de Novembro.
Nessa data, em 1908, manifestou-se pela primeira vez,
numa sessão da Federação Espírita, em Niterói, uma entidade
que declarou trazer a missão de estabelecer um culto, no qual os
espíritos de índios e de escravos poderiam desenvolver seu trabalho espiritual,
organizado no plano astral do Brasil. Na época, esses
espíritos aproximavam-se das reuniões espíritas, mas as suas mensagens
eram recusadas, por serem eles considerados atrasados, tendo em
vista a condição de humildade com que se identificavam.
A entidade, que se apresentou aos
videntes como um mentor espiritual, deu o nome de CABOCLO DAS SETE
ENCRUZILHADAS.
No dia
seguinte, verdadeira multidão compareceu à residência do médium – um
jovem de 17 anos, Zélio Fernandino de Moraes, de tradicional
família fluminense. A entidade manifestou-se e determinou as normas do
novo culto, que teria o nome de UMBANDA, declarando fundado o primeiro
templo de Umbanda, cuja prática seria exclusivamente a caridade
espiritual, através de passes, desobsessões e curas de enfermos.
O
templo, que tomou o nome de Tenda Nossa Senhora da Piedade, funciona
ainda hoje, no centro do Rio de Janeiro (Rua D. Gerardo, 51) com uma
filial ( Cabana de pai Antônio ) num sítio em Boca do Mato, Cachoeiras de
Macacu, completando, em Novembro próximo, 69 anos de atividade.
Prosseguindo
a sua missão, o Caboclo das 7 Encruzilhadas fundou mais 7 templos,
cujos dirigentes foram escolhidos entre os grupos de médiuns preparados
nas sessões doutrinárias que a entidade estabelecera, às quintas-feiras à
noite, para esclarecimentos sobre a doutrina espírita, o Evangelho
e as normas ritualísticas da Umbanda. Estas normas determinavam:
médiuns uniformizados de branco, cânticos sem acompanhamento de atabaques
nem palmas ritmadas; preceitos baseados apenas em água, amaci de
ervas, flores e pemba, atendimento totalmente gratuito, não sendo
admitido estabelecer nem aceitar retribuição financeira de espécie alguma.
Os templos, organizados administrativamente, mantinham-se pelas
contribuições dos associados.
Milhares
de templos, em quase todos os Estados, descendem desse grupo
inicial, conservando, em sua maioria, a pureza da doutrina e da
ritualística. Formou-se assim a religião de Umbanda – denominada,
de início, Lei de Umbanda, ou Linha Branca de Umbanda – cujos
mentores são os Caboclos e os Pretos-Velhos.
Justifica-se, portanto, a
escolha da data de 15 de Novembro, por não se prender apenas a uma das
falanges principais da Umbanda e sim a ambas: Caboclos e Pretos Velhos.
A referência feita à Proclamação da
República deve-se ao fato de ter sido ela determinante da igualdade religiosa
estabelecida pela primeira vez na Constituição da República, em 1889,
o Estado deixou de ter uma religião oficial, permitindo assim que
todos os credos, inclusive a nossa doutrina, se difundissem livremente.
(Jornal “Gira de Umbanda” 1976)
Obs: o texto acima se encontra nas páginas
7,8 e 9.
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