Quase todas as propostas idealistas, na medida em que se fazem
conhecidas, perdem em profundidade o que lucram em superfície.
De igual maneira vem sucedendo ao movimento espírita, cuja
divulgação merece aprofundar os conceitos doutrinários, a fim de oferecer
subsídios valiosos aos iniciantes e interessados em conhecer na sua realidade
legítima a doutrina libertadora da ignorância espiritual sobre a vida.
Em face da popularização dos nobres conteúdos filosóficos,
pessoas inescrupulosas transformam-se de um para outro momento em pretensos
esclarecedores do pensamento espírita, introduzindo as próprias ideias, em
razão do quase total desconhecimento espiritista.
Não poucas vezes, presunçosos e arrogantes, criam diretrizes
burlescas e teorias esdrúxulas que dizem provir do mundo espiritual,
completando o que Allan Kardec não teve tempo de realizar.
Nesse capítulo, surgem movimentos denominados um passo adiante
do que se encontra estabelecido na Codificação, como resultado de informações
perfeitamente compatíveis com as conquistas da ciência contemporânea.
Outros indivíduos, portadores de conflitos psicológicos,
projetam os seus transtornos na farta clientela desprevenida e se apresentam
como portadores de mediunidade especial, caracterizada por expressiva
clarividência, que lhes permite antever o futuro, detectar o presente, formular
diagnósticos de enfermidades graves e resolvê-las, identificar obsessões
perversas, infortúnios porvindouros... E utilizando-se da iluminação que se
atribuem, apresentam fórmulas salvacionistas, propondo comportamentos
incompatíveis com o bom senso e a lógica doutrinários.
É lamentável que tal fenômeno tenha lugar num movimento que
pretende traduzir a grandeza do pensamento dos Imortais, com simplicidade e lógica,
embora a sua grandiosa e complexa estrutura intrínseca.
Sucede que os tormentos da vaidade e do orgulho, que ainda
predominam em a natureza humana, como herança do seu processo de evolução
antropológica, impedem ou dificultam que o indivíduo amolde o caráter moral às
novas propostas de iluminação, tornando-se-lhe mais fácil adaptá-las ao seu
vicioso modo de ser.
No começo, um grande entusiasmo invade esses desprevenidos, que
se deixam tocar interiormente pela significativa contribuição imortalista, logo
após acostumando-se com a informação valiosa e, necessitados como se encontram,
de novidades, criam, fascinados pelo próprio raciocínio, correntes de
pensamento que lhes projetem o ego, a desserviço da divulgação saudável e
correta do Espiritismo.
É sempre valioso recordarmo-nos da frase enunciada por João, o
Batista, a respeito de Jesus, quando elucida: - É necessário que Ele cresça e
que eu diminua.
Assim, agiu corretamente, porque o seu era o ministério de
preparar-Lhe os caminhos, diminuindo as asperezas, que se tornaram ainda muito
complicadas para vencê-las, fazendo, porém, a sua melhor parte.
Aos espiritistas, portanto, novatos ou militantes, que tudo
façam para que a doutrina cresça e eles diminuam, de modo que realizem o mister
que lhes cabe sem a ufania de serem inovadores, médiuns especiais e
reveladores, completistas do trabalho do Codificador ou elucidadores das
diretrizes fornecidas pelos Espíritos, o que lhes desvela a insensatez e a
presunção, demonstrando que, não fossem eles e não se compreenderia a Revelação
que, no entanto, é simples e profunda.
Também repontam os defensores do Espiritismo, sempre preocupados
com a forma exterior e não com a vivência interna, quais antigos fariseus,
estando sempre vigilantes para denunciar, agredir aos demais e aparecer com a
bandeira da salvação, como se fossem necessários. Olvidam que a sua jornada
terrestre é sempre breve, e que se o Espiritismo os necessitasse para esse fim,
bem pobres seriam a sua filosofia e ética-moral, porque dependentes da sua
defesa. Quando desencarnassem, como é inevitável, e tem sucedido com todos
esses que assim se comportam, o pensamento espírita ficaria órfão, e logo
desapareceria.
Ledo engano, a morte que a todos arrebata, não consegue diminuir
o impacto e a força da Terceira Revelação que vem dos Céus à Terra, ao inverso
do que alguns pensam...
A maneira mais vigorosa e própria para a divulgação do
Espiritismo é a exposição dos seus ensinamentos conforme se encontram na
Codificação, naturalmente apresentando contribuições convergentes,
contemporâneas, sem alardes nem sensacionalismos, porquanto, os mentores da
Humanidade prosseguem vigilantes, a fim de que nada venha a faltar, para que,
em breve, seja conhecido e vivenciado.
Portanto, é de igual e magna importância, viver-se o dia a dia
existencial fixado no programa elaborado pelo Consolador prometido,
demonstrando alegria de participar deste momento, com fidelidade ao amor e à
caridade, vivenciando uma conduta moral saudável, tornando-se carta viva do
Evangelho, a fim de que todos possam ver no seu comportamento o profundo e
desafiador contributo que proporciona felicidade e paz.
Desse modo, não há lugar no movimento espírita para
pessoas-fenômeno, para gurus de ocasião, para reveladores extravagantes, para
mensagens bombásticas, para informações apavorantes, a fim de atrair adeptos
temerosos do fim do mundo, do juízo final, dos umbrais, da necessidade de fazer
a caridade de modo a evitar sofrimentos e quejandos...
O Espiritismo ilumina a consciência, libertando os sentimentos
das prisões emocionais, das dependências de pensamento febril, facultando aos
seus adeptos a responsabilidade pelos próprios atos, sempre geradores de
conseqüências compatíveis com a sua constituição.
Doutrina da alegria, não é festeira, nem pode ser transformada
em um oásis de fantasias para diversão ou frivolidade.
É uma ciência grave e simples, que se destina a pessoas sérias,
laboriosas, que anelam por uma sociedade mais solidária e fraternal.
Todo o investimento de zelo e carinho, responsabilidade e amor
na vivência dos seus postulados, de que se encarrega o movimento organizado
pelas criaturas humanas, deve ser levado em conta, a fim de que o Espiritismo
alcance a finalidade para a qual foi enviado pelo Senhor, qual seja a verdadeira
construção do reino de Deus no coração.
Divaldo Pereira Franco. Pelo Espírito Vianna de Carvalho.
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