ESTUFAS PSÍQUICAS DA DEPRESSÃO.
"Apenas Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no
fundo do coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutai-a,
que somente bons conselhos ela vos dará. As vezes, conseguis entorpecê-la,
opondo-lhe o espírito do mal. Ela, então, se cala." Um Espírito protetor,
(Lião, 1860).
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XIII - ítem 1.
Depressão é uma intimação das Leis da Vida convocando a alma a
mudanças
inadiáveis. É a "doença-prisão" que caça a liberdade
da criatura, rebelde, viciada em ter seus caprichos atendidos. Vício
sedimentado em milênios de orgulho e rebeldia por não aceitar as frustrações do
ato de viver. Em tese, depressão é a reação da alma que não aceitou sua
realidade pessoal como ela é, estabelecendo um desajuste interior que a
incapacita para viver plenamente...
Desde as crises ocasionais da depressão reativa até os quadros
mais severos que avançam aos sombrios labirintos da psicose, encontramos no
cerne da enfermidade o Espírito, recusando os alvitres da vida. Através das
reações demonstra sua insatisfação em concordar com a Vontade Divina, acerca de
Seus Desígnios, em flagrante desajuste. Rebela-se ante a morte e a perda, a
mudança e o desgosto, a decepção e os desafios do caminho, criando um litígio
com Deus, lançando a si mesmo nos leitos amargos da inconformação e da revolta,
do ódio e da insanidade, da apatia e do sofrimento moral.
Neste momento de transição em que os avanços científicos a
classificam dentro de limites e códigos, é necessário ampliar a lente das investigações
para analisá-la como estado interior de inadequação com a vida, que limita o
Espírito para plenificar-se, existir, ser em plenitude. Seu traço
psíquico predominante é a diminuição ou ausência de prazer em quaisquer níveis
que se manifeste. Portanto, dilatando as classificações dos respeitáveis
códigos humanos, vamos conceituá-la como sendo o sofrimento moral capaz de
reduzir ou retirar a alegria de viver. Sob enfoque espiritual, estar deprimido
é um estado de insatisfação crônica, não necessariamente incapacitante. As mais
graves psicoses nasceram através de "filetes de loucura controlada"
que roubam do ser humano a alegria de continuar sua marcha, de cultivar sonhos
e lutas pelos ideais de sobrevivência básica. Nessa ótica, tomemos alguns exemplos
para ilustrar nosso enfoque de depressão à luz do Espírito imortal em condutas
rotineiras:
O desânimo no cumprimento do dever.
A insegurança obsessiva.
A ansiedade inexplicável.
A solidão em grupo.
A impotência perante o convite das escolhas.
A angústia da melhora.
A aterrorizante sensação de abandono.
Sentir-se inútil.
Baixa tolerância às frustrações.
O desencanto com os amigos.
Medo da vulnerabilidade.
A descrença no ato de viver.
O hábito sistemático da queixa improdutiva.
A revolta com normas coletivas para o bem de todos.
A indisposição de conviver com os diferentes.
A relação de insatisfação com o corpo.
O apego aos fatos passados.
O sentimento de menos-valia perante o mundo.
O descaso com os conflitos, a negação dos sentimentos.
A inveja do sucesso alheio.
A desistência de ser feliz.
A decisão de não perdoar.
A inconformação perante as perdas.
Fixação obstinada nos pontos de vista.
O desamor aos que nos prejudicam.
O cultivo do personalismo - a exacerbada importância pessoal.
O gerenciamento ineficaz da culpa.
As aflições-fantasma com o futuro.
A tormenta de ser rejeitado.
As agruras perante as críticas.
Rigidez nas atitudes e nos objetivos.
Conduta perfeccionista.
Sinergia com o pessimismo.
Impulso para desistir dos compromissos.
Pulsão para controlar a vida.
Irritabilidade sem causas conhecidas.
Todas essas ações ou sentimentos são sinais de depressão na
alma, porque criam ou refletem um desajuste da criatura com a existência,
levando-a, paulatinamente, a roubar de si mesma a energia da vida. São
rejeições à Sábia e Justa Vontade Divina - Excelsa expressão do bem em nosso
favor nas ocorrências de cada dia.
Bilhões e bilhões de homens, na vida física e extrafísica, estão
deprimidos ou constroem "estufas psíquicas" para futuras depressões
reconhecidas pela ótica clínica.
Arrastam-se entre a animalidade e o mundo racional. Lutam para
se livrar da pesada crisálida magnética dos instintos e assumir sua gloriosa
condição de filhos de Deus e cocriadores na Obra Paternal. Vivem, mas não sabem
existir. Perambulam, quase sempre, na alegria de possuir e raramente alcançam o
prazer de ser. Ora escravos das lembranças do passado, ora atormentados pelo
medo do futuro. Jornadeiam sob os grilhões do ego recusando os apelos do self.
Esse conceito maleável da doença explica o lamentável estado de
inquietude interior que assola a humanidade. É a "algazarra do ego"
criando mecanismos para continuar seu reinado de ilusões, obstruindo os clarões
de serenidade e saúde imanentes do self - a vontade lúcida do Espírito em busca
da liberdade.
Devido aos programas coletivos de saneamento psíquico da Terra
orientados pelo mais Alto, vivendo o momento histórico. Nunca foram alcançados
índices tão significativos de resgate e socorro nos atoleiros morais da
erraticidade. Conseqüentemente, eleva-se o número de corações que regressam ao
corpo carnal sob custódia do remorso.
Esse estado psíquico responde pelo crescimento dos episódios
depressivos. Seria trágico esse fenômeno social se deixássemos de considerá-lo
como indício de mudança nos refolhos da alma. Conquanto não signifiquem
libertação e paz, coloca a criatura a caminho dos primeiros lampejos de
consciência lúcida.
O planeta em todas as latitudes experimentará uma longa noite de
dores psicológicas, em cujo bojo despontará um homem novo e melhorado em busca
dos Tesouros Sublimes, ainda desconhecidos em sua intimidade.
Ao formularmos esse foco para a depressão, nossa intenção é
estimular a medicina preventiva centrada no Espírito imortal e na educação. É
assustador o índice de deprimidos segundo a sintomatologia oficial, no entanto,
infinitamente maior é o número daqueles que cultivam, em regime de cultura
mental, os embriões de futuros episódios psiquiátricos depressivos.
A solução vem da própria mente. A terapêutica está no imo da
criatura. Aprender a
ouvir os ditames da consciência: eis o que pouco fazem quando se
encontram sob sansão da depressão. Esse é o estado denominado "consciência
tranqüila", ou seja, quando o self supera as tormentas da culpa e do medo,
da ansiedade e do instinto de posse. Aprendendo a arte de ouvir esse guia
infalível, a criatura caminha para o sossego íntimo, a serenidade, a plenitude,
a alegria.
A saúde decorre de uma relação sinérgica com o self. Dele partem
as forças capazes de estabelecer o clima da alegria de ser. Do self procede a
energia da vida, o tônus que permite a criatura ampliar seu raio de interação
com a natureza - outra fonte de vida -, expressão celeste de Deus no universo.
A depressão é ausência dessa energia de base, dessa força de vitalidade e
saúde, ensejando a defasagem, o esgotamento. A ausência de contato com o amor -
Lei universal de vida e saúde integral - responde pelos reflexos da "morte
interior". Nos apelos da consciência encontraremos o receituário para a
liberdade e a paz, o equilíbrio e o progresso.
A ingestão dessa medicação amarga será a batalha sem tréguas,
porque aderir aos ditames consciências significa, antes de tudo, deixar de
desejar o que se quer para fazer o que se deve. Nessa escola de novas
aprendizagens, a alma fará cursos intensivos de novos costumes emoções através
do aprendizado de olhar para si.
A ausência de uma percepção muito nítida das nossas reais
necessidades interiores leva-nos à busca do prazer estereotipado, aquele que a
maioria procura para preencher o "vazio", e não viver criativamente em paz. Depois vem a
culpa e outras manifestações de dor. O prazer real é somente aquele que nos
equilibra e preenche sem sofrimentos posteriores.
Somente estando identificados com os "recados do
self", construiremos uma vida criativa, adequada ao caminho individual.
Jung chamou esse processo de individuação.
Descobrir nossa singularidade, saber vivê-la sem afronta ao meio
e colocá-la a serviço do bem, essas as etapas do crescimento sistêmico,
integrado com o próximo, a vida e a natureza. Individuação só será possível
acolhendo a sombra do inconsciente através dos "braços do ego",
entregando-a à "inteligência espiritual" do self, para transformá-la
em luz e erguimento conforme as aspirações do Espírito.
Depressão - condição mental da alma que começa a resgatar o
encontro com a verdade sobre si mesma depois de milênios nos labirintos da
ilusão.
"A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O
que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá,
contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?"
"Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com
relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro.".
Consciência tranqüila e prazer de viver, a maior conquista das
pessoas livres e felizes.
ESCUTANDO SENTIMENTOS
A ATITUDE DE AMAR-NOS COMO MERECEMOS
WANDERLEY S. DE OLIVEIRA
Pelo Espírito ERMANCE DUFAUX
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