Não
há como negar, no mundo globalizado, já alcançado pelos filhos de Deus, caminho
que percorremos com sofreguidão, seguindo os ditames da Lei de Evolução.
Utilizamo-nos das palavras, como veículo poderoso de convencimento de outrem,
para que comunguem nossos pontos de vista.
Inquestionavelmente,
o poderoso meio de comunicação pela palavra serve aos despropósitos daqueles
cujo caráter não ascendeu à elevação moral anelada pelos candidatos à
bem-aventurança dos puros de coração.
Usam-na
para ferir, escrachar, injuriar e mascarar as intenções das pessoas, carregando
o veneno mortal da desdita naquele que faz mau uso desse instrumento.
Certamente,
essa é uma das razões de se encontrar, no livro Seara dos médiuns, pelo
Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, ed. Feb e, no
cap. 14 desse livro, intitulado A carta de Tiago, encontra-se o escólio das
três questões que não têm volta: a flecha lançada, a palavra falada e a
oportunidade perdida.
Pronunciada
a palavra e, no sentido lato, também o pensamento, não há maneira de fazer com
que ela ou ele retornem. É indispensável pensar muito bem, antes de nos
pronunciarmos a respeito de um tema, pois, não podendo fazer com que a palavra
volte ou nosso pensamento retroceda, teremos que responder pela nossa ação.
Indubitavelmente, é a palavra que reflete, de forma segura, o nível moral em
que nos encontramos.
Com
a palavra se propagam as boas obras e se acende a esperança, nos corações
amorosos, despertando a fé. Ao fortalecer a fé vacilante, sustenta-se a paz e,
concomitantemente, se má empregada, serve para alimentar o vício e a
delinquência. Utilizando a palavra, o professor eleva a mente dos seus
aprendizes às culminâncias do saber, ensejando aos seus discípulos
descortinarem o mundo belo, colorido e consentido. Usando do verbo, o malfeitor
arroja infindável número de vítimas do não vigiar, do não orar e do não ter
olhos para ver, para o fosso do crime. Conversando, a mãe educa e dulcifica o
filho, apontando-lhe os caminhos da honra e do dever.
Com
a palavra, maus líderes editam leis espúrias, conduzem os povos às guerras
cruentas, permitindo que a boca escancarada da morte ceife vidas preciosas. Na
contrapartida do exercício do livre-arbítrio, os bons governantes, sinceramente
preocupados com seus comandados e responsabilidades, elaboram discursos de paz
e se esforçam por concedê-la. O Divino Rabi da Galileia falou, e o Evangelho
surgiu como a Boa Nova que todos aguardavam, sofridos e desalentados. Antes
d’Ele, a fim de preparar os caminhos, uma voz se ergueu desde o deserto até as
margens do rio Jordão, pregando um novo tempo. Um tempo em que as veredas do
Senhor seriam aplainadas, e os homens poderiam ouvir o doce cântico de um Rabi.
Nas
tardes quentes, nas noites amenas, Jesus serviu-Se da palavra para ensinar as
verdades do Pai que está nos céus, para manifestar a Sua vontade generosa e
curar enfermos. Com Seu verbo e sua logística incomparável, salvou da morte,
por apedrejamento, uma mulher que se equivocara, esquecendo dos seus deveres de
esposa. Serviu-Se da palavra e pediu perdão ao Pai para os que O crucificaram
e, com a palavra da fé, entregou-Se a Deus. O apóstolo Paulo, pela palavra
consciente e esclarecedora, levou as boas novas do Reino de Deus a lugares
inimagináveis.
O
Messias deixava-Se inflamar pela inspiração dos céus, que Seu verbo convertia
multidões. Gandhi serviu-se da palavra, para convidar a todos os seus irmãos da
Índia a se unirem pelo mesmo ideal; seguindo os passos de Jesus, elegeu a não
violência como forma de vencer as cizânias da vida. Martin Luther King Jr.
Discursou, em nome da paz, desejando que brancos e negros se sentissem irmãos.
Quando
a guerra civil devastava o solo americano, o Presidente Lincoln usou da palavra
de bom ânimo, para levantar a moral dos soldados abatidos pelas derrotas e pelo
abandono que acreditavam sofrer. O verbo é sempre a manifestação da
inteligência sadia ou enferma. É a base da escrita. E, toda vez que utilizamos
a palavra, semeamos bênçãos ou espalhamos tempestades. Desse modo, ainda que
trevas e espinheiros se alonguem junto a nós, governemos a emoção e
pronunciemos, sempre, a palavra que instrua, console, ajude ou santifique.
Aprendamos
a calar toda frase que destrua, porque toda palavra que agride é moeda falsa,
no tesouro do coração. Sobre o poder da palavra e a forma de combatê-la, há uma
história popular que dulcifica os corações amorosos e nos torna cada vez mais
sensíveis ao amor, sublime amor. Conta-se que, certo dia, um homem revoltado
criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou–o numa carta rude e
malcriada e mandou-a para seu chefe da oficina de onde fora despedido.
O
pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis. E, quando o diretor do
serviço leu as frases ingratas que o ofendiam, acolheu-as, desprevenidamente,
no próprio coração, e tornou–se furioso, sem saber a razão. Encontrou, quase de
imediato, o subchefe da oficina e, a pretexto de enxergar uma pequena peça
quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que trazia consigo. Foi a vez de o
subchefe tornar-se neurastênico, sem se dar conta do motivo.
Abrigou
a projeção maléfica no sentimento, permaneceu amuado várias horas e, no
instante do almoço, ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso
dardo intangível. Tão só por ver um sapato imperfeitamente engraxado, proferiu
dezenas de palavras chulas; sentiu-se aliviado, e a mulher passou a asilar no
peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável. Repentinamente
transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover,
encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço de calçados e
desabafou.
Com
palavras indesejáveis, inoculou-lhe no coração o estilete invisível. Agora era
uma pobre menina quem detinha o tóxico mental. Não podendo despejá-lo nos
pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, em vista do enorme débito em dinheiro
que seria compelida a aceitar, acercou-se de velho cão, dorminhoco e paciente,
e transferiu-lhe o veneno imponderável, num pontapé de largas proporções.
O
animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera e, para livrar-se desta,
mordeu a primeira pessoa que encontrou na via pública. Era a senhora de um
proprietário vizinho que, ferida na coxa, se enfureceu, instantaneamente, pela
vibração amaldiçoada, possuída pela força maléfica. Em gritaria desesperada,
foi conduzida a certa farmácia; entretanto, deu-se pressa em transferir ao
enfermeiro que a socorria a vibração indesejada. Crivou-o de xingamentos e
esbofeteou-lhe o rosto.
Rapaz
muito prestativo, de calmo que era, converteu-se em fera verdadeira. Revidou os
golpes recebidos com observações ásperas e saiu, alucinado, para sua
residência, onde a velha e devotada mãezinha o esperava para a refeição da
tarde. Chegou e descarregou sobre ela toda a ira de que era portador. – Estou farto!
– bradou. – A senhora é culpada dos aborrecimentos que me perseguem. Não
suporto mais esta vida infeliz. Fuja da minha frente. O rapaz fez mau uso da
palavra e pronunciou nomes terríveis. Blasfemou, gritou colérico, qual louco.
A
velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe, com
naturalidade e brandura: – Venha cá, meu filho. Você está cansado e doente. Sei
a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razão para
lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo. Lembremo-nos de Jesus. O uso que O
Divino Jardineiro fez das palavras dulcificadas. Afinal, tudo passa, na Terra.
Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou. Abraçou-o, comovida, e
afagou-lhe os cabelos.
O
filho demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia, no
carinho materno, tanto perdão e tanto entendimento que começou a chorar,
pedindo-lhe desculpas. Houve, então, entre os dois, uma explosão de íntima
alegria. Jantaram felizes e oraram, em sinal de reconhecimento a Deus. A projeção
destrutiva do ódio morrera, ali, dentro do lar humilde, diante da força
infalível do sublime amor.
Jaime
Facioli
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