segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

UMBANDA – Mitos e Realidades

PARTE 3/4
Texto extraído do Livro "Umbanda – Mitos e Realidades" de Iassã Ayporê Pery.

11. Como funciona a hierarquia dentro de um terreiro de Umbanda?

Dentro de um terreiro de Umbanda deve existir organização e disciplina. E para manter essa organização e disciplina deve existir também um sistema hierárquico. Alguns Terreiros dividem-se em parte administrativa e espiritual.
A parte administrativa funciona como uma associação normal, com Presidente, Tesoureiro, Secretários e outros cargos que possam vir a serem úteis na composição de seu estatuto. Já a parte espiritual é comum ser dividida da seguinte forma:

a) Babalorixá e Ialorixá: São os Dirigentes do terreiro, o Sacerdote (Babalorixá) ou a Sacerdotisa (Ialorixá). É o Responsável espiritual por tudo que acontece nas gírias, antes, durante e depois. São também chamados de pais e mães-de-santo. Eles têm a função de cuidar e zelar espiritualmente do Terreiro e dos médiuns, orientar e dirigir os trabalhos abertos e fechados ao público. São os responsáveis em fazer cumprir as diretrizes estabelecidas pelo astral superior.

b) Pai Pequeno e Mãe Pequena: São as segundas pessoas na hierarquia de um terreiro. Tem como função auxiliar e substituir quando necessário o Babalorixá e a Ialorixá. Outras funções específicas variam de terreiro para terreiro.

c) Médiuns de Trabalho: São os médiuns que trabalham incorporados, cujas entidades já dão consulta e já passaram por todos os preceitos do terreiro, que também variam de Terreiro para Terreiro.

d) Médiuns em Desenvolvimento: São Médiuns que como o nome já diz, estão em desenvolvimento, ainda não passaram por todos os preceitos da casa. Em alguns Terreiros ele podem dar passes, já incorporam uma ou outra linha de trabalho, mas não são autorizados a dar consultas. Estão sendo preparados para tornarem médiuns de Trabalho. Ajudam no auxílio as entidades incorporadas.

e) Cambonos: São os responsáveis para auxiliar as entidades, esclarecer a assistência quanto as obrigações passadas, coordenar a entrada da assistência nas consultas e passes.

f) Curimbeiro, Tabaqueiro ou Ogã: É a pessoa responsável pela puxada dos pontos cantados e bater ou tocar o atabaque, quando utilizados pelo Terreiro. Sua função é a de ajudar na evocação das entidades e auxiliar a manter a agrégora positiva da Casa durante as seções.

Deixemos bem claro que todas as funções são importantes dentro da organização de um Terreiro e nenhuma é melhor ou pior que a outra, o respeito e a disciplina deve sempre ser elementos básicos da convivência entre todos, deve-se tomar muito cuidado com a vaidade e a inveja, sentimentos que devem ser sempre repudiados por todo e qualquer umbandista.

12. O que pode ou não dentro dos rituais praticados nos Terreiros serem considerados de Umbanda?

Podemos observar a enorme confusão que as pessoas fazem em relação ao que faz ou não parte dos rituais da Umbanda e o que faz um terreiro serem considerados de Umbanda.
Em primeiro lugar a premissa básica para que se determine que um terreiro seja UMBANDA é a caridade que se pratica no local. Não podemos confundir fundamentos com elementos de rito ou culto. Em primeiro lugar é fundamental estabelecermos algumas premissas básicas para o perfeito entendimento a respeito da diferenciação do que seja “fundamento” de “elemento de rito”.

Fundamento: é tudo que existe velado ou não, dentro do terreiro que “fundamenta” e direciona seus trabalhos. Estabelece suas linhas de força trabalhada e cultuada, assim como a missão da Casa. Ou seja, interfere e determina o resultado final dos trabalhos realizados. É estabelecido pelos Dirigentes espirituais. Exemplo: firmezas ou pontos de força estabelecidos no Gongá.

Elemento de Rito: é tudo que existe, velado ou não, presente ou não, que não interfere no resultado final dos trabalhos e nem na missão da Casa. É estabelecido pelo sacerdote.

Entendido isso vejamos então o que determina realmente se um terreiro é de Umbanda ou não?

a) Na umbanda o atabaque é elemento de rito, ou seja, a presença ou não do atabaque NÃO interfere no RESULTADO final do trabalho. A gira pode ficar, e fica mesmo, mais alegre, mais “vibrante”, mas o resultado final é o mesmo. As entidades incorporam e fazem seu trabalho da mesma maneira.

b) As roupas (saias rodadas, etc.) são elemento de rito, o fato de serem brancas é que é fundamento, ou seja, se as mulheres trabalham com “baianas” rodadas ou sem roda, ou de jalecos não interfere no resultado final do trabalho. As roupas coloridas podem ser usadas em giras festivas. Vai da preferência do sacerdote.

c) Sacrifício de animal não é fundamento e muito menos elemento de rito da umbanda, entretanto é e tem fundamento em outras religiões.

Esses simples exemplos servem apenas para ilustrar, pois é tão fácil e simples saber ou detectar se um terreiro é de umbanda ou não. Há caridade? Não há cobrança por trabalhos, consultas ou passes? Não há sacrifício de animais? Então é umbanda. Fácil, não? O resto, ou quase tudo, é elemento de rito.

13. Qual a necessidade ou a importância do uso de roupas brancas?

A “Roupa Branca” usada pelos médiuns nos rituais de Umbanda, deve ser tratada de maneira especial e usada exclusivamente para este fim.
Ela representa a pureza e a simplicidade, além do branco ser uma cor que absorve a vibrações mas não as retém.

14. Qual o objetivo dos banhos de ervas?

Tem ervas que são para descarrego, outras para energização e outras com ambas as funções, outras simplesmente preparatórias para algum tipo de trabalho.
Dependendo da necessidade o médium ou o consulente, tomará seu banho de ervas objetivando sempre uma boa harmonização com as forças da natureza, para a consecução dos objetivos propostos.
Os banhos de ervas necessitam de uma ritualística preparatória e não devem ser tomados indiscriminadamente, só devem ser tomados sob orientação da Entidade ou do Dirigente do Terreiro ou de pessoas a sua ordem, pois sem o conhecimento específico do problema e do objetivo a ser alcançado, o banho pode ter efeito contrário. Por exemplo se a pessoa tiver agitada demais não deverá tomar banho de ervas Ogum ou Iansã, pois poderá ficar mais agitada ainda.

15. Porque batemos a cabeça no gongá?


O “bater a cabeça” é um gestual que representa humildade e respeito, é uma ato de oferecimento de seu Ori (coroa), de reverencia e agradecimento à Coroa Regente da Casa e de pedido de benção.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

UMBANDA – Mitos e Realidades

PARTE 2/4
Texto extraído do Livro "Umbanda – Mitos e Realidades" de Iassã Ayporê Pery.

6. É, mas uma vez eu ouvi um médium dizer que se ele abandonasse as entidades o castigariam? Isso é verdade?

Não, a entidade não faria isso. Certamente era o médium que em suas limitações de conhecimento entendia assim. Na verdade o que muito provavelmente aconteceria, se fosse em um Terreiro sério e com entidades sérias, a Entidade faria era aconselhar e alertar o médium quanto ao perigo que ele estaria sujeito ao abandonar a Umbanda ou seu compromisso mediúnico.
Entidade Protetora ou Guia, não bate ou castiga seu médium, ela respeita a sua opção e o livre arbítrio que lhe foi outorgado por Deus. Ele não tem ingerência sobre isso.
Como dito anteriormente, o médium ao se afastar do seu compromisso mediúnico ou do terreiro, não deixa de ser médium por isso, de acordo com o que faça da sua vida a partir daí é o que vai justificar sua nova condição, se fizer coisas boas continuará recebendo boas influências, mas se levar uma vida desregrada receberá influências negativas ou ruins.
A Umbanda, tão pouco seus guias e protetores, não têm função de nos punir e sim de orientar e amparar.

7. O que é um “guia de frente”?

É a entidade que chefia a coroa do médium, é representante direto de seu Orixá Regente. É responsável em comandar todas as entidades e guias que trabalhem na coroa do médium ela traz as orientações e ordens diretas do Orixá Regente. São também conhecidas como mentores. Em alguns terreiros pode ser também um Preto-velho ou um Caboclo.

8. Pode duas ou mais pessoas receber entidades com o mesmo nome?

Certamente que sim. Aliás isso é bastante comum de acontecer da mesma maneira que encontramos pessoas com o mesmo nome.
Podemos observar várias entidades se identificando como: Caboclo Rompe Mato, por exemplo, isso não quer dizer que é a mesma entidade ou o mesmo espírito, e sim entidades que trabalham em um mesmo campo vibracional.
Na verdade se paramos para pensar realmente, o nome é o menos deve importar, mas sim o grau de comprometimento com a caridade.

9. Como é o desenvolvimento de um médium Umbandista?

Embora esta questão seja bastante específica e a resposta varie de terreiro para terreiro, como a maioria das questões sobre ritualística e fundamentos, vejamos alguns pontos que devem ser observados.

a) É fundamental uma avaliação minuciosa do médium com relação a Umbanda e suas próprias aspirações. É de suma importância que ele esteja certo de que é isso que deseja para si e para sua vida, que entenda que a Umbanda é uma religião que o ajudará na sua evolução através da Caridade e não é para resolver seus problemas.

b) A casa que ele escolher para realizar este empreendimento deve estar o mais próximo do que ele acredite, entenda e queira para si. É fundamental que seja uma casa séria e comprometida com a caridade, ou seja, que seja realmente de Umbanda.

c) As diferentes ritualísticas da Umbanda servem exatamente para atender as diversas aspirações. Por isso antes de qualquer coisa ele deve freqüentar a assistência assiduamente, observar, envolver-se e estudar até ter certeza que ali é o seu lugar.

d) Cada casa tem um critério para se fazer parte da corrente, procure saber qual é. Ao entrar para a corrente deverá seguir rigorosamente as orientações do Dirigente e da Entidade chefe ou das pessoas a sua ordem.

e) Entender que nãos será umbandista dos portões para dentro do terreiro, mas sim de coração, corpo e alma. Deverá dedicar-se, educar-se, doutrinar-se seguindo as orientações recebidas, que sua conduta moral deverá ser constantemente vigiada.

f) Participar de todas as seções que esteja, abertas aos médiuns novos, estudar e se dedicar com afinco, buscando sempre melhorar seus pensamentos, desejos e vontades. Buscar constantemente a evolução espiritual e moral, para assim poder preparar o seu corpo e mente para ser um bom instrumento para as Entidades Protetoras e Guias.

Buscar tudo isso irá facilitar a incorporação e o desenvolvimento de sua mediunidade, se entregue de corpo e alma, sem medo. É essencial lembrar que é um momento de adaptação, onde tanto médium quanto entidade estarão se afinizando. Não tenha pressa, o tempo que você levará para incorporar, dar passes, dar consultas, só dependerá de você mesmo, de sua dedicação empenho e preparo seguindo as orientações que lhe forem passadas.

10. É verdade que homens que trabalham com entidades femininas são Gays ou podem se tornar?

Não, não é verdade. O que determina a preferência sexual de uma pessoa é ela mesma e não a entidade, aliás ninguém tem ingerência sobre este assunto, isso é um pensamento machista e preconceituoso, a Umbanda não coaduna com pensamentos retrógrados. Ninguém vira ou se torna homossexual, ou ela é ou não é, isso é uma característica dela e deve ser respeitado. O médium é um medianeiro, um aparelho para a espiritualidade trabalhar pela expansão da caridade, assim sendo a entidade não interfere na personalidade do médium, senão todos que incorporarem Ogum serão guerreiros, e quem trabalha com todas as linhas sofre de personalidades múltiplas. Então se for assim mulheres também não podem trabalhar com entidades masculinas pois se tornarão lésbicas.

Temos que mudar esta mentalidade e acabar com o preconceito dentro dos Terreiros. A Umbanda tem lógica e coerência, o que deve realmente interessar não é a preferência sexual do indivíduo, mas o quanto de caridade e amor a pessoa tem para fazer e dar, o quão dedicado a espiritualidade ela o é, e o quão envolvido com o astral superior ela esteja.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

UMBANDA – Mitos e Realidades

PARTE 1/4
Texto extraído do Livro "Umbanda – Mitos e Realidades" de Iassã Ayporê Pery.

Podemos observar que as pessoas que procuram a Umbanda o fazem, em sua maioria, para resolverem problemas de ordem material, exigindo um resultado imediato,e quando não encontram creditam no Terreiro ou ao Dirigente e Médiuns, quando não a própria Umbanda, o motivo do seu fracasso.

Por que isso acontece? Acreditamos que a culpa disso seja dos próprios umbandistas que não esclarecem que a Umbanda é uma religião digna e nobre como todas as outras, se omitem ou são os primeiros a dar “oferendas” para obterem favores materiais das Entidades.

Por outro lado, sabemos que a Umbanda lida com vários elementos e uma variedade enorme de espíritos, e também que ela tem a capacidade de penetração nos mais variados campos do Astral, conseqüentemente, havendo merecimento e empenho, muito problemas acabam realmente por ter uma “solução mais rápida”, mas somente aos que merecem e o fazem por merecer.

Qual é o mistério da Umbanda? Amor e Caridade, pura e simplesmente. A ritualística que cada terreiro de Umbanda segue, somente serve como um leque de possibilidades para os diversos anseios de culto de cada um. Na verdade, quem procura um Terreiro de Umbanda deveria apenas se preocupar se ela é séria, se não cobra consultas e trabalhos e se tem como objetivo principal a caridade e o Amor ao próximo. Essa é a verdadeira Umbanda.

Sabendo que temos por obrigação sempre buscar o “por que” das coisas e não ficarmos satisfeitos com repostas do tipo “isso é assim porque é” ou “isso é um mistério da fé”, vamos aqui tentar elucidar algumas dúvidas que encontramos por parte da maioria dos freqüentadores e alguns médiuns de Umbanda. Serão perguntas e respostas que escutamos freqüentemente nos terreiros ou fará deles. Não julguem a qualidade das perguntas, porque se pra você a pergunta é simples ou boba, para outro poderá não ser. As respostas sim são simples porque assim é a Umbanda. Então vamos lá:

1.Pode uma pessoa praticar o mal sob influencia de espíritos?

Sim pode, tanto quanto pode praticar o bem, também influenciada pelos espíritos. Mas estejam certos de que para que as influencias negativas ou positivas atuem em nossas vidas devemos estar sintonizados com tais vibrações.
Portanto orai e vigiai. Você tem seu livre arbítrio e é o único responsável pelas companhias que atrair, tanto carnais como espirituais, e que permitir atuar em sua vida.

2.Todos somos médiuns?

Todos nós somos sensitivos, mas alguns em um grau mais elevado que o outro. Esses diferentes níveis de sensibilidade podem ser compreendidos com diversas formas de mediunidade que está liga a missão que o individua tem aqui na terra. Alguns são médiuns de incorporação, outros intuitivos, videntes, audientes, de efeitos físicos, de pisocofonia e de psicografia, todos passíveis de desenvolvimento de acordo com o livre arbítrio de cada um.

3.O Médium quando está incorporado sabe tudo o que está acontecendo e o que a pessoa está falando com a Entidade?

Normalmente sim. A grande maioria dos médiuns é consciente ou semiconsciente como falam, ou seja sabem o que está acontecendo mas não tem ingerência sobre as atitudes da entidade.
Normalmente logo após a consulta o médium ainda lembra de alguma coisa, que vem como “flash”, mas logo depois vão esquecendo aos poucos. Somente médiuns inconscientes é que não sabem o que se passou durante uma consulta, mas é muito raro este tipo de mediunidade.
Mas se a sua preocupação é se você pode conversar qualquer assunto com a entidade que o médium não vai contar pra ninguém, isso aí dependerá da índole do médium e da Casa que ele trabalhe, mas não se preocupe, pois o princípio básico de uma casa de Umbanda séria é o sigilo em respeito às consultas e o respeito com os problemas de cada um.

4.Se uma pessoa tem que trabalhar mediunicamente e se a mesma não entrar para um Centro ela poderá receber um guia ou entidades na rua, em casa, no trabalho ou em outro lugar?

Não. Uma Entidade Guia ou Protetora “de Luz” não irá de forma alguma expor a pessoa ao ridículo ou a situações constrangedoras incorporando em lugares públicos. O fato é que se a pessoa é médium, e tem como missão trabalhar mediunicamente e opta por não desenvolver sua mediunidade isso não faz com que ela deixe de ser médium. O que acontece é que sua mediunidade ficará embrutecida e desamparada expondo a ação de espíritos trevosos que poderão, esses sim, manifestarem em locais públicos colocando a pessoa em situações embaraçosas e de risco.
A Umbanda ou outra religião qualquer serve para nosso crescimento moral e espiritual e como um elo de religação com Deus, freqüentar ou participar ativamente de uma deve ser uma opção particular de cada um e não uma imposição.
Devemos saber que pelo fato de termos uma mediunidade mais aflorada nos torna imãs, atraindo toda e qualquer energia que estiver nos ambientes aos quais freqüentarmos, o desenvolvimento dessa mediunidade, se faz necessário para aprendermos a lidar com essas energias e controlar as manifestações e termos a oportunidade através do trabalho mediúnico de resgatarmos nossos kármas e compromissos assumidos antes de reencarnarmos.
Negar e fugir disso não nos levará a nada, é claro que existem outras formas de praticarmos a Caridade, trabalhar mediunicamente deve ser uma opção e não uma imposição. Cada um com seu Kárma, missão e vontade.

5. É verdade que a pessoa que entra para trabalhar na Umbanda não pode mais sair, porque atrasa a vida?

Não, não é verdade. Como também não é verdade que a vida da pessoa em questão vai pra frente se ela entrar para a Umbanda.
O que ocorre é que ao entrar para a corrente de um terreiro de Umbanda a pessoa passa a dar vazão e a desenvolver sua mediunidade, assume compromissos e responsabilidades, se tranqüiliza e se harmoniza vibracionalmente e evolutivamente, ou pelo menos deveria.
O “atraso na vida” da pessoa ocorre porque ela deixa de se equilibrar, evoluir e fazer caridade. Conseqüentemente ela deixa de ter tranqüilidade para resolver até o mais simples dos problemas. Mas isso ocorre porque a pessoa saiu do Terreiro, mas não deixou de ser médium e continua recebendo influência do Astral. E se ela não continuar com suas responsabilidades em ter uma vida regrada, de conduta ilibata e não praticar a caridade de alguma forma, receberá maior influencia do Astral inferior, segundo a Lei das afinidades.

Que fique bem claro que não é o ingresso da pessoa ou a sua permanência na Umbanda, ou qualquer outra religião, que fará com que a vida da pessoa “ande pra frente” ou que todos os problemas dela se resolverão. Temos que ter a consciência de que é a sua conduta moral, seu desejo de praticar a caridade, de ajudar ao próximo, de buscar sua evolução é que será determinante se ela vai melhorar ou não, é uma questão de merecimento pessoal. A Umbanda através de um Terreiro sério lhe dará a oportunidade, o conhecimento e o meio, cabe a pessoa abraçar ou não.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Prática da Mediunidade

LEON DENIS - ESPÍRITOS E MÉDIUNS




O estudo e aplicação das faculdades medianímicas são de capital importância, já que, segundo o uso que se faça desses dons, podem resultar em um bem ou em um mal para quem os possua e para a causa que pretenda servir.
O Espiritismo é uma arma de dois gumes: arma poderosa – com o apoio dos espíritos elevados – para combater os erros, a mentira e todas as misérias morais da humanidade; mas também uma arma perigosa pela ação dos espíritos inferiores e maus. Nesse caso, pode voltar-se contra os médiuns e os experimentadores e ferir-lhes a saúde e a dignidade, causando desordens graves.
Na experimentação espírita, tudo depende dos invisíveis. A natureza e a qualidade de sua ação variam segundo o valor das entidades que se manifestam.
Os espíritos elevados derramam, sobre nós, fluidos puros e benéficos, que reconfortam nossas almas e acalmam nossas dores, predispondo-nos à bondade e à caridade. Em nosso relacionamento com eles, obtemos as forças necessárias para vencer nossos defeitos e nos aperfeiçoarmos.
As manifestações dos espíritos inferiores podem ser úteis pelas provas de identidade que proporcionam, mas, sem demora, seus fluidos pesados e maus alteram o estado de saúde dos médiuns, turvam seu juízo e sua consciência e, em certos casos, desembocam na obsessão e na loucura.
As trágicas cenas descritas pelo Dr. Paul Gibier em seu livro Espiritismo ou Faquirismo Ocidental, das quais quase termina vítima, e os exemplos que encontramos um pouco em todas as partes, nos demonstram, até à evidência, os riscos que se corre ao se estabelecer relações continuadas com os levianos do espaço.
Praticar o Espiritismo sem rodear-se de precauções necessárias equivale a abrir a porta, de par a par, para os assaltantes de rua.
Recordemos em que consistem as precauções indispensáveis. Antes de cada sessão, há que se invocar os espíritos guias e assegurar uma proteção eficaz que, afastando as más influências, estabeleça no ambiente invisível a mesma disciplina que o presidente do grupo deve impor aos assistentes.
Com este fim, Allan kardec recomenda a oração e nós não titubeamos em insistir nesse sentido.
Sem dúvida que, como a ele, nos chamarão de místicos, mas o que fazemos é observar e aplicar a lei universal das vibrações, que une todos os seres e todos os mundos e os liga a Deus.
A Ciência começa apenas a balbuciar os primeiros elementos dessa lei com o estudo da radioatividade dos corpos, com a aplicação das ondas e correntes à longa distância. Mas, à medida que prossiga nas investigações do Invisível, comprovará sua maravilhosa harmonia e suas vastas consequências.
A partir deste ponto de vista, lhe estão reservados esplêndidos descobrimentos, porque nisso reside todo o segredo da vida superior, da vida livre do espírito no Espaço e as regras de suas manifestações.
Com o pensamento e a vontade podemos pôr em movimento todas as forças escondidas em nós mesmos. Nossas irradiações fluídicas se impregnam das qualidades ou dos defeitos dos pensamentos e criam, em torno de nós, um ambiente de conformidade com nosso estado de alma.
Como a oração é a expressão mais alta e mais pura do pensamento, traça uma via fluídica que permite às entidades do Espaço descerem até nós e se comunicarem; nos grupos ela constitui um meio favorável à produção de fenômenos de ordem elevada, ao mesmo tempo que preserva contra os maus espíritos.
Para que seja eficaz e produza todo o efeito desejado, a oração deve ser um chamamento ardente, espontâneo e, por conseguinte, de breve duração: pelo contrário, as orações vulgares, recitadas da boca para fora, sem calor comunicativo, não produzem senão irradiações débeis insuficientes.
Fácil, portanto, será compreender a necessidade de que haja, nas sessões, união de pensamentos e vontades. Deve-se ter presente, sobretudo, a importância que exercem nas emissões fluídicas os sentimentos de fé, de confiança, de desinteresse, em uma palavra: todas as qualidades morais, as facilidades que elas dão aos bons espíritos, de par com os obstáculos que opõem à ação dos espíritos mal-intencionados.
E, tudo isso, sem excluir o livre exame e as condições de controle que nenhum observador deve abandonar jamais.
Tão pouco há que se surpreender se os resultados obtidos são relativamente trabalhosos e pobres em ambientes em que reina uma atmosfera de ceticismo, onde se pretende dar ordens aos fenômenos e aos espíritos, e nos que, sem saber, criam travas às manifestações de ordem elevada.
Ademais, o presidente de cada grupo deve esforçar-se em obter silêncio e recolhimento durante as sessões, e evitar as perguntas inoportunas e demasiado pessoais, que pretendam dirigir aos espíritos, para manter, dentro do possível, a união dos pensamentos e das vontades, dirigindo-os para uma finalidade comum.
Os pensamentos divergentes e as preocupações materiais formam correntes desencontradas, uma espécie de caos fluídico, que dificulta a intervenção dos guias, enquanto que a concordância de intenções e de sentimentos estabelece a fusão harmônica dos fluidos e cria um ambiente propício à sua ação.
A sessão deve terminar com algumas palavras de agradecimento aos espíritos protetores e convidando os participantes a aproveitar os ensinamentos recebidos, praticando a moral que deles se deriva.
Com suas críticas, nossos contraditores inexperientes demonstram, com frequência, sua escassa competência nestes assuntos. Mas, por outro lado, todos os magnetizadores conhecem a propriedade que têm os fluidos de refletir exatamente nosso estado de ânimo e sabem imprimir-lhes, às vezes, qualidades benéficas e curativas.
Também é possível demonstrar, experimentalmente, a existência e a variedade infinita desses fluidos que diferem em cada personalidade.
Pode-se facilmente tirar placas fotográficas com as irradiações que se desprendem de nossos cérebros, e registrar os fluidos que variam segundo as disposições pessoais.

O exercício da mediunidade encontra dois obstáculos temíveis: o espírito de lucro e o orgulho. (Quantos médiuns começaram animados de um sincero desejo de servir à nossa causa e terminaram, por causa do orgulho, por cair no ridículo, convertendo-se em motivo de zombaria para todos!)
A satisfação de si mesmo é perfeitamente legítima, quando é o resultado de qualidades ou de méritos adquiridos por meio de trabalho ou estudos prolongados. Como sentir orgulho por uma faculdade que veio do Alto e que não precisou de gastos nem esforços?
O orgulho é o que inspira essas rivalidades, essa inveja mesquinha entre médiuns, causa frequente de desunião em alguns grupos. É preciso que cada um se contente com o que recebe.
Quando o médium está isento de vaidade, é franco de coração, e, com a sinceridade de sua alma, aos olhos de Deus, oferece seu concurso aos bons espíritos, estes se apressam em assisti-lo e o ajudam a desenvolver suas faculdades.
Cedo ou tarde levam até junto dele os parentes falecidos, os amados mortos, reatando-se uma doce intimidade, fonte de alegrias e consolos. Pouco a pouco o médium vai se tornando o artífice bendito da obra de renovação. Recebe e transmite as instruções que iluminam a vida e traçam a via de ascensão para todos, proporcionando, assim, a ajuda moral que faz mais fácil o dever e mais suportável a prova.
Assim, com os ensinamentos dos espíritos, a noção de justiça se estenderá pelo mundo. Ao saber que viemos quase todos para expiar faltas anteriores, o homem não se mostrará tão inclinado a murmurar contra a sua sorte, e seu pensamento se elevará acima das misérias deste mundo, evitando que seus atos ou suas palavras aumentem o peso das injustiças que sobre si recaem. Então a vida social poderá melhorar, e a humanidade adiantará um passo.
Todas essas humildes vidas de médiuns que, a não ser por isso, ficariam obscuras e insignificantes, se verão enriquecidas pela missão recebida, iluminadas por um raio divino e se converterão em elementos de progresso e de regeneração.
O contato com o Invisível, com as almas puras e grandes, aumenta as faculdades psíquicas e multiplica os meios de percepção. Nas sessões bem dirigidas, o médium percebe, cada vez mais, as irradiações, os fluidos dos mundos superiores. Experimenta uma dilatação de seu ser, uma soma de gozos que escapam à análise e que são, como uma antecipação da vida espiritual, um prelúdio da vida do espaço. É uma compensação oferecida, já nesta existência, às fadigas e trabalhos pelo exercício da mediunidade.

O médium sincero, leal, desinteressado – como dizíamos – pode estar seguro da assistência dos bons espíritos; mas se ele se deixar invadir pelo amor ao lucro, ou pelo orgulho, os Espíritos Guias se afastam e deixam o caminho aos espíritos fracos e atrasados. Então, aumentam os enganos e as fraudes. Aparecem mensagens firmadas com nomes pomposos de estadistas, reis, imperadores ou poetas célebres, porém, quando se passam essas comunicações pela peneira da razão e da reflexão, nos damos conta de que somos vítimas de uma fraude.
Não é que queiramos dizer que esses grandes espíritos não se comunicam nunca, mas aconselhamos a maior prudência neste ponto, pois sabemos, por experiência, que os espíritos elevados, que tiveram nomes ilustres na Terra, não gostam de vangloriar-se deles, preferindo manifestar-se com nomes alegóricos e pseudônimos. Vários médiuns contribuíram, dessa maneira, a desnaturar o Espiritismo.
Allan Kardec, pela retidão de seu caráter, a dignidade de sua vida e pela elevação de seus pensamentos, teve o privilégio de atrair espíritos nobres e elevados. Leiamos e meditemos seus livros, que são a expressão da mais pura sabedoria e verdade.
Por exemplo, em suas obras este grande escritor sempre se levantou, com vigor, contra o princípio da mediunidade assalariada, como causa de abusos inumeráveis.
Recordemos, antes de mais nada, que a mediunidade é variável, inconstante e pode desaparecer tal como veio. Não exige estudos prévios, nem usa laboriosa preparação como na aquisição de uma arte, de uma ciência, etc. É um dom que é retirado, quando se abusa dele.
Os exemplos disso são frequentes. A mediunidade, cujos resultados são muito diferentes segundo os lugares, o ambiente e a proteção oculta, e são com frequência negativos, pouco serviria a uma utilização regular e contínua. Os guias sérios, os espíritos elevados não se prestariam a isso.
Admitimos, não obstante, que os sábios e os experimentadores que se servem das faculdades de um médium e monopolizam seu tempo, firmem com ele um compromisso e o indenizem por suas viagens e pelas horas perdidas. Assim mesmo, consideramos que os grupos devem aos médiuns, depois de prolongados serviços, mostras de simpatia e atenção, com a condição de que isso não atente contra o princípio da mediunidade gratuita e desinteressada.
Poderá alegar-se que faz cinquenta anos que Allan Kardec faleceu; que as circunstâncias mudaram, que o Espiritismo se estendeu, e a Ciência começa a interessar-se por seus fenômenos, sendo, portanto, conveniente proporcionar os meios que lhe permitam comprovar e confirmar tais fenômenos.
A isto responderemos que os conceitos formulados por Allan Kardec não perderam nada de sua oportunidade. E, precisamente porque o Espiritismo se estende e está chamado a representar um grande papel, porque leva a si os elementos de salvação e de regeneração, é que se há de preservá-lo de toda mancha e evitar, quanto possa, diminuir seu valor e sua beleza. Porém, o que é incontestável é que todo tráfico inspira desconfiança. O afã de ganhar leva ao charlatanismo e ao engano. Quando o médium adquire o costume de tirar proveito material de suas faculdades vai resvalando, pouco a pouco, para a fraude porque, se os fenômenos não se produzem, procura imitá-los.
Em todas as partes em que o Espiritismo é objeto de comércio, os espíritos sérios se afastam e os espíritos inferiores vêm ocupar seu lugar.
Nesses ambientes, o Espiritismo perde toda a influência benfeitora e moralizadora para converter-se em um verdadeiro perigo, em uma exploração da dor e das recordações dos mortos.
Em resumo, repetimos aos espiritistas e aos médiuns em vossas reuniões, pratiquem sempre o recolhimento e a oração; que esta seja como um facho luminoso que alcance diretamente seu fim, e atraia os bons espíritos; se não for assim, não virão as almas que desejam, não virão vossos mortos queridos.
Não façais de vossas sessões um objeto de diversão, de curiosidade, um espetáculo para boquiabertos, mas um ato grave e solene, um ato de cultura intelectual e moral. Não atraiam os espíritos de ordem inferior, cujos fluidos podem alterar vossa saúde e provocar casos de obsessão. Não evoqueis vossos guias, senão com a consciência de que o fazeis com respeito.
Todos têm sua missão a cumprir no Mais-Além; suas ocupações são múltiplas e absorventes. Sua vida está muito distante de ser a beatitude sonhada; é uma atividade constante, uma dedicação abnegada para todas as grandes causas.
Seus ensinamentos, seus conselhos os ajudarão a suportar as vicissitudes da existência terrena, eles vos darão a certeza de novas vidas futuras, vidas de trabalho, de purificação, de dever, por meio das quais vossas almas, ao se fazerem mais tolerantes, subirão um dia para essas esferas luminosas, nas quais começarão a desfrutar as alegrias do Infinito.

Neste momento, levanta-se sobre o mundo uma grande esperança, começa a despontar uma nova aurora para o Pensamento e para a Ciência. O Espiritismo, que se baseia na verdade, é imperecível, mas sua marcha pode se ver entorpecida pelos erros e faltas de seus próprios partidários, muito mais do que pela oposição e manejos de seus adversários.
Chagará um dia em que tudo quanto ensinam os espíritos, faz quase um século, sobre o períspirito, os fluidos, a sucessão de existências, tudo será admitido como certo e confirmado pela Ciência.
Reconhecer-se-á então a importância da oração na comunicação universal dos seres. E as ladainhas monótonas e intermináveis da Igreja cessarão, para dar lugar ao grito da alma para seu Pai, ao chamamento ardente do ser humano àquele de quem tudo emana e para quem tudo volta eternamente.
Quando tal dia chegar, a Religião e a Ciência se fundirão em uma concepção mais ampla da vida e do destino. O Espiritismo será o culto da família; o pai, mais instruído, mais culto, substituirá o sacerdote; a esposa e as filhas serão as médiuns por cujo intermédio os antepassados, as almas dos avós se manifestarão e assegurarão sua influência moral. Será o retorno à religião franca e primitiva, enriquecida pelo progresso e a evolução dos séculos; sobre esse culto familiar cimentar-se-ão as imponentes reuniões e as mais altas manifestações da ordem estética.
Entretanto, para que o Espiritismo realize todo o seu programa renovador, terá que afastar de seu seio os germes mórbidos e todos os elementos maus que poderiam entorpecer ou deter seu impulso. Deste modo, a responsabilidade dos espíritas é grande. Eles devem evitar, com cuidado, tudo quanto possa retardar o grandioso florescimento de nossas crenças e de seus efeitos moralizadores.
O Espiritismo, depois de haver sido, tanto tempo, repudiado, menosprezado, se impõe definitivamente pelo poder de seus fatos e pela beleza moral de sua doutrina. Converteu-se numa força radiante que se estende progressivamente pelo mundo.
Depois das provas de uma guerra de cinco anos, depois do luto e do vazio causado por tantas partidas, muitos olhares chorosos se voltam para ele.

Nós, que temos conhecido as dificuldades e os sofrimentos do princípio, comprovamos, com alegria, este imenso impulso que leva as almas para nossas crenças. Contudo, para assegurar a difusão e o triunfo definitivo, para obter o respeito de seus adversários e desempenhar o papel salvador que lhe corresponde na obra de ressurgimento da pátria, o Espiritismo deve cumprir uma condição absoluta, sem a qual não é possível êxito algum, e esta condição não é outra senão a de ser sempre honrado, seguindo as tradições de seu venerado fundador.